11 junho 2010

Golpe de madrugada

O relato da sessão do Senado que, na calada da madrugada, aprovou a mudança na distribuição dos royalties do petróleo, prejudicando especialmente os estados do Rio e Espírito Santo, mostra bem como se portaram suas excelências no trato da coisa pública.

O Senado transformou-se em um verdadeiro "mercado de ilusões". Às 2h25m da madrugada de quarta para quinta-feira, o senador Pedro Simon, do alto da tribuna, recitava quanto cada estado brasileiro recebe de recursos derivados da exploração do petróleo e quanto receberá, com a emenda Ibsen/Simon. Com base nos cálculos da Associação Nacional dos Municípios:

"Acre, de 6,8 milhões para 586 milhões; Alagoas vai passar de 80 milhões para 1,3 bilhões...". O senador Heráclito Fortes atalhou: "E o Piauí, senador?". "De 18 milhões para mais de 1 bilhão!", respondeu Simon.

Essas contas foram feitas de maneira improvisada, como se o petróleo já estivesse sendo explorado, esquecendo que o pré-sal é de difícil acesso e de exploração caríssima.

Com a visão desse novo ‘Eldorado’, a conclusão do senador piauiense foi a de 41 outros seus colegas: "Não podemos abrir mão dessa oportunidade, não tem como ficar contra!".

A nova redistribuição passa a vigorar tão logo a lei passe pela Câmara (que só pode aprovar ou rejeitar e, com essa pressão dos municípios, o provável é que os deputados aprovem) e seja sancionada pelo presidente da República.

O compromisso da base governista, incluídos PT, PCdoB e PMDB do governador Sérgio Cabral, de analisar com mais critério essa proposta e, ao menos, deixar a matéria para depois das eleições para evitar pressões eleitoreiras, foi superado pelos currais de votos que já estão sendo montados.

O deputado Chico Alencar, do PSOL do Rio, não tem ilusões de que na Câmara a situação seja revertida, mas espera, "sem muita confiança", pelo veto do presidente Lula.


Fonte: Merval Pereira

Nenhum comentário: