06 abril 2010

Novas oportunidades em logística

Nem mesmo a recente crise internacional foi capaz de frear o crescimento da demanda por profissionais na área de logística nos últimos anos. O perfil de quem atua na área, no entanto, mudou. Até pouco tempo, os maiores cargos ocupados por executivos do setor estavam limitados à gerência. Agora, o mercado já aloca especialistas em funções de direção ou nas cadeiras de vice-presidente ou presidente. "Em momentos de crise, as empresas saem em busca de novas soluções para reduzir custos, exigindo todo o conhecimento de especialistas nesse setor", garante Maurício Lima, diretor da área de capacitação do Instituto Ilos, que atua na área de geração de conhecimento e soluções em logística.
A prova desse bom momento para os profissionais é que quatro grandes empresas ouvidas pela reportagem oferecem vagas em mais de 10 cidades, além de colocações nos Estados Unidos, México e Argentina. "Por ser uma carreira relativamente nova, ainda há um grande potencial de crescimento", analisa Lima. Há oportunidades de trabalho para recém-formados, que ocupam cargos de analista e participam de atividades de planejamento, além de gerentes e diretores.

Para o especialista, a tendência é um reflexo do aumento da importância da logística nas empresas, observado desde o início da década de 1990, quando a eficiência operacional passou a ser decisiva na indústria e no varejo - até então, o estoque era considerado uma reserva de valor e alvo de especulação. "Hoje, o excesso de armazenamento é visto como uma ineficiência. Ao trabalhar com um baixo nível de estoque, a empresa fica mais suscetível a erros e exige uma rotina de alta confiabilidade, o que demanda uma logística muito mais complexa e sofisticada", afirma.

O Valor teve acesso a uma pesquisa inédita realizada pelo Ilos com 104 profissionais de logística no Brasil. O estudo revela que as mulheres estão ganhando mais espaço em um mercado tradicionalmente masculino e que experiências internacionais pesam na hora da promoção. Entre os gerentes, 46% dos profissionais recebem entre R$ 50 mil e R$ 150 mil, e 42% deles ganham entre R$ 150 mil e R$ 300 mil por ano. Nos cargos de presidente e diretor, 57% dos executivos abrem holerites que passam dos R$ 300 mil anuais.

Mas na hora de reivindicar melhores salários, a experiência internacional do profissional de logística parece ser decisiva. O estudo mostra que 56% dos empregados que ganham acima de R$ 300 mil por ano já trabalharam ou estudaram fora do país. São eles que, geralmente, estão em cargos mais elevados, como presidente ou diretor. O Ilos também observou que, nos últimos dois anos, as executivas ganharam mais posições e melhores salários em um segmento dominado pelos homens. Em 2008, 66% das mulheres ocupavam funções de analista. Já em 2009, 48% delas aparecem em postos mais graduados, como gerente (38%), presidente ou diretor (10%). A mudança também respingou nos salários. No ano passado, 59% das profissionais passaram a receber entre R$ 50 mil e R$ 150 mil anuais - em 2008, apenas 40% delas ocupavam essa faixa.

Coordenadora do departamento de transporte da Aliança Navegação e Logística em Santos (SP), a executiva Juliana Latorraca entrou na empresa como estagiária, em abril de 2005. "Fui contratada oito meses depois, quando terminei a graduação", lembra. Juliana é engenheira de produção mecânica e fez um MBA em gestão empresarial, com ênfase em logística, na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Hoje, é responsável pelo departamento de multimodal da Aliança, que gerencia o transporte terrestre de contêineres depois da chegada ao porto. "A atividade exige a contratação, monitoramento e controle de serviços de transporte rodoviário, ferroviário, terminais de contêineres, além de fornecedores de serviços e de mão de obra para a movimentação das cargas."

Juliana já coordenou operações delicadas, como o transporte de plasma sanguíneo em contêineres com temperatura controlada, e o atendimento a uma grande empresa de eletroeletrônicos que incluiu a contratação de veículos com dispositivos de segurança, disponibilidade de equipes 24 horas por dia e informações em tempo real para o cliente. Para ela, o segredo da profissão é atender a exigência do contratante no menor prazo e com o menor custo. "Além de raciocínio lógico, o profissional deve ser dinâmico, tomar decisões rapidamente e sob pressão."

A atualização também é um forte requisito para se manter no cargo. Além do MBA, a engenheira fez curso de inglês no Brasil e nos Estados Unidos e participa de treinamentos internos na companhia. Em 2010, pretende se inscrever em uma especialização em finanças, controladoria e gerenciamento de processos. Segundo a pesquisa, 96% dos profissionais da área afirmaram ter investido na própria capacitação durante o ano. As aulas de logística integrada, custos logísticos e de cadeias de suprimentos foram as mais procuradas pelos profissionais. Nos próximos anos, por conta de necessidades do mercado, os treinamentos mais comuns devem ser de logística tributária e planejamento de redes logísticas.

Segundo Hugo Yoshizaki, coordenador da Fundação Vanzolini e do curso de pós-graduação em logística empresarial da Universidade de São Paulo (USP), a maioria dos alunos dos cursos de especialização tem formação em engenharia e administração de empresas e idades entre 25 e 35 anos. O curso de pós-graduação em logística empresarial da Fundação Vanzolini, oferecido em convênio com a USP, foi lançado em 2005 e já formou sete turmas, com quase 200 alunos. "São oferecidas duas turmas por ano com 35 vagas cada uma. A procura oscila entre 3 e 4 candidatos por vaga", diz. Em maio, a fundação lança um novo curso, de capacitação em gestão de operações logísticas para profissionais com ou sem experiência na área.

Para Maurício Lima, além de conhecimento técnico, o profissional também deve ter grande habilidade analítica. "O custo dessa atividade para as empresas é alto e representa mais de 8% da receita líquida das companhias no Brasil." Segundo o diretor do Ilos, a maioria dos profissionais do mercado é formada em engenharia e administração e direciona a formação acadêmica para logística durante a pós-graduação. Nas empresas do setor, o profissional tem de conhecer operações de comércio exterior e dominar o idioma inglês. "Além do lado técnico, é preciso saber lidar com o inesperado. O transporte internacional marítimo, aéreo e terrestre envolve alfândegas, documentação e conformidades legais, e exige a gestão de um profissional que não seja acomodado", diz Fábio Bermúdez, diretor de logística internacional da Tito Global Trade Services, especializada em logística e gestão aduaneira.

A companhia tem 400 funcionários, escritórios em 11 cidades brasileiras e unidades em três países. Para selecionar candidatos, Bermúdez recebe indicações, vai às universidades e usa recrutadores profissionais. No ano passado, a empresa, dona de um faturamento de US$ 24,4 milhões, contratou 75 pessoas. "Três foram para cargos de gerência", diz. Em 2010, espera-se um crescimento de 24% nos negócios e a criação de 50 posições para as áreas de gestão e operação de projetos. As vagas abertas estarão em Porto Alegre (RS), São Caetano do Sul e São Paulo (SP), além de Buenos Aires, Cidade do México e Miami. A empresa também vai investir US$ 600 mil no fortalecimento de equipes comerciais - quer criar times de vendas locais em todos os países de atuação.

Na Brasilmaxi, com 370 funcionários e unidades em seis cidades, a previsão é contratar 50 profissionais para cargos operacionais, técnicos e de supervisão. "Eles devem atuar na Grande São Paulo, Rio de Janeiro e no Espírito Santo", afirma Uguslete Zanardi, responsável pela área de RH. A empresa atende clientes como Semp Toshiba, LG e Honda e planeja engordar os contratos em 17%, até dezembro. No ano passado, contratou 120 pessoas e cinco delas foram para posições de comando.

"Queremos profissionais com curso superior e preferencialmente com uma pós-graduação em logística", adianta José Luiz Pereira, diretor operacional da Golden Cargo, especializada em transportes e armazenagem de produtos ligados à cadeia do agronegócio. A empresa, com um faturamento de R$ 100 milhões, tem centros de armazenagem e distribuição em sete Estados e coleciona clientes como Dow e Basf. Com mais de 300 colaboradores, contratou quatro gerentes em 2009 e vai fazer novas contratações este ano. Há vagas abertas também na Exata Logística, que faturou R$ 80 milhões em 2009 e atende a Vivo e a Masterfoods, do setor alimentício. No ano passado, a companhia de 500 funcionários admitiu 80 colaboradores e dez foram para posições de gerente ou superior. "Os profissionais vieram de Minas Gerais, São Paulo e do Distrito Federal", diz o diretor Mauricio Pastorello.

Nenhum comentário: